terça-feira, 7 de maio de 2013

A Última Manhã de Inverno

O despertador toca, é manhã, mas não tão cedo
Manhã fria, normalmente é fria, igual a ontem, igual a anteontem
O Homem levanta-se devagar, retira as cobertas de cima de suas pernas
Está com meias que sobram levemente na ponta de seus pés
Da os dois primeiros passos cambaleantes, depois sai em direção ao banheiro
Lava o rosto  calmamente, sentindo nas mãos o áspero da barba crescendo
Alisa a testa e se detêm alguns segundos olhando para seu próprio rosto
O rosto não é mais o mesmo, mas por dentro ainda continua a mesma coisa
Ele da dois passos pra trás e olha ao redor, depois senta-se numa privada terrivelmente gelada
Urina sentado enquanto fuma um, depois outro cigarro
Sai do banheiro e veste-se, a calça, a camisa de sempre e uma Velha Jaqueta por cima
Pega seu maço e seu isqueiro, enfia tudo no bolso da jaqueta e se dirige a sala
Chega na sala, na velha sala, tudo sempre no mesmo lugar
Olha pela janela a cidade como se esperasse que a paisagem horrível pudesse mudar
Esperava ver uma grande floresta no lugar dos prédios
De repente tira essa ideia da cabeça  e se move em direção a uma bolsa
Pega uma bolsa preta pequena pela alça e vai em direção a porta
Gira a chave e em seguida põe a mão na maçaneta
Antes de girá-la fica parado pensando em algo
Por um segundo parece ter visto toda sua coragem sumir
Endireita-se, pisca os olhos mais de uma vez demoradamente, e põe-se a girar a maçaneta
Desce a escadaria e sai do prédio sentindo-se incomodado por algo
Então começa a caminhada, passos longos e lentos
Ele sente a leve brisa no rosto, e também percebe os olhares na sua direção
As pessoas parecem ter algum interesse obscuro em observá-lo
Apesar disso ele continua normalmente a sua caminhada
Esses olhares, essas coisas todas, ele sempre odiou tudo isso, tudo sempre a mesma coisa


Seria no mínimo terrível para alguma outra criatura viver desse jeito

Ele se detém para atravessar a rua, nada desse, nada daquele lado
Atravessa e vai em direção a uma praça
Uma praça comum, Árvores, crianças, pássaros e alguns bancos sujos
Chegando na calçada desta praça, ele escolhe o banco menos imundo
Hesita, olha para os lados e senta-se devagar
Não há muita gente nas redondezas, por causa do frio talvez
Ele chega na conclusão de que as pessoas realmente não sabem apreciar o Frio
Mas esse não é um pensamento para tal momento
Então ele pensa no que fez, e pensa um pouco no que não fez
Abre o zíper da sua bolsa preta, e tira de lá uma Arma calibre 38
Coloca o cano gelado dentro da boca, aponta para o céu da boca e puxa o gatilho
A bala atravessa o seu crânio, então seu corpo relaxa levemente sobre o banco
No dia seguinte a morte já está neste e naquele jornal, nesta e naquela conversa matinal
A vida é bela para alguns, eles até a definem como uma benção
Mas para outros, bem...
Cabe aos jornais nos informar
Só mais uma morte, só mais um suicida demente, só mais um caixão com um cadáver dentro
O que há antes de tudo isso nunca é citado, a razão é esquecida
Por que quanto menos detalhes, mais fácil será o julgamento
Talvez a ignorância seja o combustível para a longevidade das pessoas
Quanto menos se pensa, mais e melhor se vive
Esta é a história do homem que foi além, e teve sua merecida liberdade
Um ponto de interrogação para todos, Mas uma exclamação magnífica pra Ele
E isso fez toda a diferença.

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